terça-feira, 10 de maio de 2016

Batons deixam marcas...

O piloto brasileiro Rubens Barrichello completou no GP da Bélgica de 2010, 300 largadas na F1. Foi um recorde memorável e que impõe muito respeito dentro do automobilismo mundial.

Assim como o grande piloto inglês Stirling Moss, para ele a honestidade e amor ao esporte, são essenciais. É quase inacreditável que ambos não conquistaram nenhum título mundial na F1, só vices. A “causa” inusitável para Moss chama-se Juan Manuel Fangio e para Barrichello, Michael Schumacher, penta e heptacampeão da F1 respectivamente...  

Na corrida da Bélgica, Rubens teve um acidente com o bicampeão Fernando Alonso e abandonou a prova sem nenhuma lesão.

Já o inglês Moss, sofreu um acidente terrível na pista de Goodwood em 1962. Foi hospitalizado em Londres, submeteu-se a várias cirurgias e nunca mais correu. Enquanto o esporte a motor torcia por melhoras físicas de Stirling, o sobrenome Moss continuava a brilhar nas pistas com Pat Moss, sua irmã.
Pat Moss, momentos antes de partir para a vitória em Monte Carlo.
Até 1955 ela dedicava-se apenas à equitação, como uma exímia amazona. Nessa época tinha 19 anos de idade e influenciada pelo irmão, juntou-se à escuderia automobilística British Motor Corporation (BMC), passando a compartilhar as corridas de automóvel com a equitação. Começou a participar de Ralies e em 1962 (aos 27 anos de idade), pilotando um Mini Cooper, ganhou o Rallye de Monte Carlo, categoria mulheres. Alguns meses depois, ela com seu confiável Mini Cooper foi a primeira colocada, na geral, do 14ºRallye Internacional de Tulipas, na Holanda, uma das etapas do Campeonato Mundial de Rallye. Sua parceira nessa vitória máxima foi a piloto Ann Wisdom que mais tarde descobriu que competiu na prova, grávida...

Já na França a Sra. Claudine Vanson, pilotando sempre um Citroen ID19 conquistava inúmeras vitórias pelas pistas francesas; entre elas, a Taça das Damas em neve e gelo.
A Sra. Juze, esposa do “barão” Wilson Fittipaldi e mãe dos irmãos Fittipaldi participara de algumas provas de turismo em parceria com seu marido, nos anos 50. Talvez esta russa tenha sido a pioneira do automobilismo esportivo feminino brasileiro.

No começo dos anos 60, essas mulheres e outras pelo mundo afora influenciaram a sulina Mary Otero, de Bagé-RS, a participar de provas na categoria força-livre, no Rio Grande do Sul. Esta moça de 20 anos de idade reativou a presença feminina num grid de largada do Brasil e talvez tenha sido a primeira piloto brasileira a participar de uma corrida no exterior, quando se apresentou no Uruguai.
Percebendo a importância do sexo feminino nas pistas, o Automóvel Clube do Brasil, em parceria com o Volks Club de Brasília organizaram uma prova só para mulheres, em 01/07/1962, na capital federal.
As inscrições vieram rapidamente. A primeira foi a Sra. Helena Cordovil. A notícia do evento foi-se espalhando e lá se inscreveram: Joana Lowell, Lídia Tavares, Ivone Marta Álvaro, Ivone Moura, Ena Palhano, Maria do Carmo Vasconcelos, Ema Bulhões e Maria Castelo Branco Sampaio.

Infelizmente somente cinco delas, todas as funcionárias da Câmara dos Deputados, puderam participar da prova, pois Lídia, Joana, Ena e Maria Castelo tiveram defeitos nos seus carros e nem largaram.
A Sra. Elba Sette Câmara, esposa do prefeito de Brasília, foi quem deu a bandeirada para que as cinco corajosas mulheres percorressem as quinze voltas programadas do improvisado traçado entre avenidas e trevos do eixo monumental de Brasília em busca da vitória.
A multidão presente aglomerada em vários trechos mostrou entusiasmo durante os trinta e cinco minutos que durou a prova (35’14”), num total de cinquenta e quatro quilômetros. Ivone Marta pilotando seu Volkswagen nº1 foi a vencedora com a incrível média de 92 km/h!
Duas fãs de Pat Moss abandonaram a prova: Helena Cordovil que na sexta volta teve o eixo partido no seu Dauphine nº3 e Ivone Moura que parou seu Dauphine nª2 num local perigoso e não faltou “bandeirinhas improvisados” no público que a auxiliaram para empurrar seu carro e, logicamente, ajudá-la a sair daquele arriscado local...
Ao final, a charmosa vencedora de pouco mais de 20 anos de idade declarou: “Meu sonho é dedicar-me ao automobilismo e lastimo não haver outras provas femininas no país”. A seguir classificaram-se: 2ª) Ivone Moura (Dauphine nº2); 3ª) Helena Cordovil (Dauphine nº3); 4ª) Ema Bulhões (Dauphine nº5) e a 5ª) Maria do Carmo (Volkswagen nº7).
Enquanto isso, a crise política reinava no automobilismo brasileiro dentro do ACB (Automóvel Club do Brasil) nosso órgão maior desse esporte, presidido pelo Sr. Santa Rosa e com registro na FIA. Isso porquê as quatro federações recém-criadas entraram com o processo no CND (Conselho Nacional de Desportos) para a criação da Confederação Brasileira de Automobilismo, como mentora do nosso automobilismo.
Os conflitos políticos não impediram que Interlagos fosse palco de mais um evento feminino: a Corrida do Batom. Foi num sábado, dia 14 de dezembro de 1963 e os ídolos da época como Ciro Cayres, Bird Clemente, Piero Gancia e Ubaldo César Lolli incentivaram suas esposas e irmãs a desafiarem o saudoso e “mágico” circuito interno de Interlagos. Foram oito voltas de muito nervosismo para os homens, principalmente o saudoso Ciro Cayres que teve suas irmãs nos dois primeiros lugares. Marise Cayres Clemente (Berlineta Willys-Interlagos nº22), esposa do simpático Bird Clemente, foi a vencedora seguida por Leonie Burjato Cayres (Simca nº44).
Amália Lulla Gancia (italiana e esposa de Piero Gancia) e Maria Angélica Lolli (esposa de Ubaldo César Lolli) fizeram ótimas ultrapassagens e chegaram em terceiro e quarto lugares respectivamente. Participaram da prova ainda a gaúcha Conceição Aparecida Brandi e Edna de Souza.
A classificação final foi: 1ª) Marise Cayres Clemente – 38’01”05s (100,4 km/h); 2ª) Leonie Cayres 38’05”03s (100,3 km/h); 3ª) Lulla Gancia (Alfa Romeo Giulietta); 4ª) Maria Angélica Lolli (JK); 5ª) Conceição Aparecida Brandi (Simca); e 6ª) Edna de Souza (Volkswagen). A melhor volta foi de Marise com 4’39” (102,7 km/h).

Essas mulheres participaram das provas em que o romantismo predominava ao profissionalismo de hoje e sem dúvida incentivaram outras brasileiras a seguirem a mesma carreira, culminando até com um título inédito quando em 1992 a carioca Suzane Carvalho faturou o sul-americano de F3, classe B. Hoje ela tem sua escola de pilotagem.  Confra em https://www.facebook.com/CentroDePilotos. 



Fontes:
Interlafos - Paulo Scali
História do Automóvel - Paulo Shvinger
AutoSport e Quatro Rodas

Jornais:
O Globo
Jornal do Brasil
O Estado de São Paulo

Revistas:
Fotos das fontes citadas


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