segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O outro australiano

EXIGENTE, DISCIPLINADO E COM UM FÍSICO FORTALECIDO. ALAN JONES ENCANTOU OS INGLESES COM SEU ESTILO AGRESSIVO DE PILOTAGEM E ALCANÇOU SUA AMBIÇÃO: FOI CAMPEÃO NA FÓRMULA 1, ASSIM COMO O CONTERRÂNEO JACK BRABHAM.

As corridas iniciaram-se na Austrália no final dos anos vinte. Duas décadas depois, o piloto australiano Stan Jones -casado com a senhora Alma O'Brien – começava a correr. No dia 02 de novembro de 1946, nasceu Alan Jones, filho do casal. Stan se tornou ídolo na Austrália devido às vitórias locais com seu carro também australiano Mayback Special, destacando sua vitória no Grande Prêmio da Austrália de 1959.
Nessa época, o piloto inglês Peter Whitehead visitou o país e os carros Maserati, Alfa Romeo, Talbot Lago e Bugatti lá começavam a aparecer vencendo as competições. Daí, Stan Jones comprou um Maserati 250F para continuar competitivo. Em 1954 ao vencer o New Zealand International Grand Prix, na Nova Zelândia, ele tornou-se o primeiro australiano a vencer uma prova fora do país. Seu filho, Alan Jones, tinha oito anos de idade e já era um entusiasta do pai. Em 1958, Stan foi campeão do Gold Star da Austrália. Ele já não levava as corridas muito a sério e divorciou-se da esposa Alma.
O jovem Alan Jones e seu pai Stan no cockpit Mayback Special.
O filho Alan foi morar com o pai e deixou a escola para trabalhar na “Stan Jones Motors”.

Jack Brabham fazia sucesso na Europa, o que provocou uma invasão dos pilotos europeus na Austrália. Alan começou a correr na categoria mirim do kart e passou para a júnior. Em seguida comprou um Morris 850 e passou a disputar arrancadas. Depois passou a correr com um Cooper-Climax 2,2 litros do pai, em eventos clubistas. Em 1960 Stan Jones sofre dois derrames cerebrais e fica debilitado.
Em 1967 Alan Jones foi para a Inglaterra conhecer as pistas, mas, voltou logo, pois percebeu que ainda não tinha experiência para correr na Formula-Ford inglesa. Dois anos depois, ele novamente viajou para a Grã-Bretanha, junto com seu amigo e também piloto Brian McGuire. Era uma época que a Inglaterra se afirmava na produção de carros de corridas e seus preços estavam compatíveis com o que Alan almejava. O seu bom humor cativava os ingleses e ele morava num porão de uma casa. Esperto, Jones passou a comprar e vender carros para sobreviver e conseguiu créditos bancários para comprar seu Formula-Ford. Mais tarde passou para a Fórmula-Libre e a idéia era correr nas pistas inglesas, vender o carro na Austrália e comprar um F-3. Tudo ia bem quando numa prova em Brands Hatch Jones destruiu o carro, quebrou uma perna e seu plano desfacelou-se.
Jones e seu Brabham BT28, em Interlagos (1971).
Ele conseguiu comprar um antigo Brabham BT28-Holbay e em janeiro de 1971, correu com este carro no 1º Torneio de F-3 do Brasil em Interlagos - São Paulo. Suas precárias condições permitiram participação em duas das três provas, finalizando ambas em 15ºlugar.
De volta para Londres, Jones casou-se com a senhora Beverley e transformou seu Brabham num modelo BT35 e usou o carro por um ano, quando conheceu Garry Robinson que lhe ajudou com os motores VegenTune no seu GRD-372.
Em 1973, pilotando o GRD-DART obteve sua primeira vitória na F-3, em Silverstone- e foi vice-campeão do John Player F-3 Championship ficando apenas a dois pontos do campeão Tony Brise. No Forward Trust ele ficou em sétimo lugar atrás dos pilotos Ian Taylor (campeão), Tony Brise, Richard Robarts, Mo Harness, o brasileiro Leonel Friedrich e Michael Wilds. No outro campeonato inglês, o Lombard North Central, Jones ficou na quinta posição atrás de Tony Brise (campeão), Richard Robarts, Michael Wilds e Russel Wood. Nesse mesmo ano, Stan Jones faleceu aos 49 anos de idade, num hospital de Londres.
Em 1974, com a ajuda do chefe de equipe Harry Stiller, Jones correu na Fórmula Atlantic. Sua primeira vitória na categoria foi em Silverstone, - dia 12 de maio -, pilotando um March Ford-Close de Mike Sullivan. Já pilotando o March Ford-Richardson do amigo Harry Stiller, Jones passou a ser melhor observado ao vencer a preliminar do GP da Inglaterra de F1, em Brands Hatch, no dia 20 de julho. Uma outra vitória veio em Oulton Park, no dia 06 de outubro nesse campeonato MCD International. O campeão deste foi o neozelandês John Nicholson com seu Lyncar-Nicholson e Jones ficou na quarta colocação.
No MCD National, vencido pelo escocês Jim Crawford, Alan Jones ganhou uma única prova: foi em Mallory Park no dia 13 de outubro.
1975 F5000: Jones em Brands Hatch, vencedor com o March 751.
Em 1975 ele correu no Europeu de F5000 com um March 751 Ford V6 Swindon da escuderia de John McDonald. Com duas vitórias (Brands Hatch e Silverstone), Jones finalizou o campeonato em oitavo lugar.
Antes disso, Harry quis tentar a F1 e o convidou para mais uma vez ser seu piloto. O carro era o Hesketh 308 e Jones não pensou duas vezes. A estréia foi no dia 13 de abril, na prova BRDC – prova não válida para o campeonato-, em Silverstone. Jones chegou na sétima posição. Duas semanas depois, Jones estréia numa prova oficial de F1, não terminando o GP da Espanha. No início da prova, ele colidiu com o Penske de Donohue, quando ambos rodaram no óleo deixado pelo Tyrrell de Scheckter. Em Mônaco, perdeu uma roda a quatorze voltas do final. No GP da Bélgica, preocupado em dar passagem para Mass e Watson na primeira gincane, colidiu com Laffite. Este prosseguiu enquanto os outros três envolvidos abandonaram a corrida. Seu primeiro resultado oficial na F1 veio na Suécia, quando terminou na 11ªposição. Após essa prova, a escuderia Custom Made Harry Stiller Racing visando menores custos, resolveu arriscar nas corridas americanas e Jones ficou a pé. Daí, Graham Hill o convidou para substituir Rolf Stommelen que se recuperava do fatídico acidente em Jarama. Seu companheiro de equipe foi o adversário da F3 Tony Brise. Jones correu os GPs da Holanda, França, Inglaterra e Alemanha com os carros Hill GH1-Cosworth, conseguindo como melhor resultado um quinto lugar no GP da Alemanha. Em seguida Alan teve que ceder seu posto para o já recuperado Rolf. No GP da Itália Rolf sofreu outro acidente e reclamou da instabilidade do carro para o chefe Graham Hill. Este não gostou e o despediu. Na corrida seguinte, o GP dos EUA, o único carro Hill presente foi pilotado por Brise, que abandonou após uma saída de pista.
Finalizado o campeonato, John Surtees convidou Alan para fazer um teste em Goodwood. Após o teste, ele acabou assinando um contrato com a equipe somente para as primeiras provas de 1976. O carro era o Surtees TS-19, projetado por Ken Sears e patrocinado pelos preservativos Durex. 
Alan Jones não participou das duas primeiras provas do ano e estreou na nova escuderia somente na Corrida dos Campeões, no dia 14 de março em Brands Hatch. A BBC reclamou do nome Durex pintado no carro de Alan Jones e ameaçou não transmitir a prova. Ficou só na ameaça e para constrangimento da emissora, ele chegou num surpreendente segundo lugar. Esse resultado lhe garantiu a permanência na equipe Surtees nas provas restantes. Participando também da F5000, com um Theodore Lola 332C-Chevrolet Bartz, Jones venceu três corridas (Brands Hatch, Mosport e Watkins Glen). A primeira pelo campeonato Shell Sport G7 e as outras duas pelo campeonato norte-americano SCCA. Neste campeonato, ele ficou na quarta posição, atrás de Brian Redman (campeão), Al Unser e Jackie Oliver.
O Surtees TS-19 era ruim e seus melhores resultados até a penúltima prova, foram dois quintos lugares (na Bélgica e na Inglaterra).  A última prova, GP do Japão, decidiu o campeonato a favor de James Hunt, debaixo de muita chuva. Com o abandono de Lauda no início da prova, Hunt necessitava chegar na terceira posição para roubar o título do austríaco. A duas voltas do final, numa bela atuação, Jones estava em terceiro lugar, com um ameaçador Hunt na quarta posição.
Japão 1976: Jones conquista o  4ºlugar, seu melhor resultado na F1, até então.
Nesse momento, um pneu do Surtees de Jones estava esvaziando e Hunt não teve dificuldades para tomar-lhe o terceiro lugar, arrematando o título mundial a seu favor e deixando o australiano na quarta posição da prova.
Sentindo-se muito pressionado por John Surtees, Alan Jones deixou a equipe no final do ano. Sabendo disso, Tony Heath ofereceu-lhe uma vaga em sua equipe de Fórmula Indy, nos EUA. Jones testou o carro no oval de Ontário, mas o que queria mesmo, era continuar na Fórmula 1. A morte do piloto Tom Pryce no GP da África do Sul de 1977, abriu-lhe as portas para continuar na Fórmula 1. Jackie Oliver o chamou para correr na escuderia Shadow em substituição ao falecido piloto gaulês. Jones testou o carro na Califórnia, antes do GP de Long Beach. O carro foi melhorando corrida a corrida e a primeira vitória oficial na F1, de Jones e da escuderia Shadow, veio no GP da Áustria.
Áustria 1977: Jones perseguido por Lafitte, vence, surpreendentemente, com o Shadow DN8, após sair em 14ºlugar, no grid.
Foi uma surpresa muito grande para todos, tanto é que no pódio não havia o hino da Austrália para ser tocado. A vergonhosa situação foi amenizada quando um bêbado improvisou “Parabéns a você” num trompete...
Participou, também em 1977, do campeonato australiano Rothmans International Series ficando em 3ºlugar pilotando o Lola T332-Chevrolet da Theodore Racing.
Os vinte e dois pontos conquistados por Jones na F1, proporcionaram-lhe alguns convites para 1978. Jones assinou um pré-contrato com a Ferrari que também estava negociando com o piloto Mario Andretti, para melhorar suas vendas nos EUA. Tudo isso não passou de um sonho para Jones, pois Andretti assinou com a Lotus e a Ferrari preferiu permanecer com o novato Gilles Villeneuve e com Carlos Reutemann.
A Williams procurou o piloto Gunnar Nilsson, mas este preferiu assinar com a estreante Arrows. Infelizmente ele não correu, pois adoeceu e mais tarde faleceu. O sueco Ronnie Peterson também foi sondado por Frank, mas acabou indo para a Lotus, ao lado de Mario Andretti. Na visita a fábrica Williams, Jones ficou encantado com o projeto de Patrick Head, o novo FW-06, e acabou assinando com Frank Williams.
Sem companheiro de equipe, Jones no decorrer do ano foi solidificando um ótimo relacionamento com Patrick e com Frank.  Essa união na equipe proporcionou uma rápida melhora no carro que passou a ser considerado o melhor carro-asa, antes dos modelos com efeito-solo. Embora frágil, com peças mal feitas, o Williams FW-06 estava na segunda posição em Long Beach, quando a asa dianteira cedeu junto com o motor que passou a ratear. Jones realizou a melhor volta da prova e terminou na sétima posição. Na França terminou na quinta colocação, sempre ameaçando John Watson que finalizou em quarto. Na Inglaterra Jones estava na segunda posição pressionando o líder Scheckter, quando teve que abandonar por quebra da transmissão. Na Alemanha vinha na terceira posição pressionando os dois Lotus, quando teve problemas de alimentação. Nos EUA teve um acidente no treino por defeito na suspensão. Mesmo assim fez o terceiro tempo e finalizou a prova na segunda colocação. Fechou o ano com a melhor volta no GP do Canadá e com onze pontos, o que o animou muito para 1979.
Correndo novamente na Can-Am, Jones finalizou o campeonato na sexta posição, pilotando o Lola 333CS, em 1979. Na F1, terminou o ano em 3ºlugar, conquistando 4 vitórias nas últimas 6 corridas, pilotando o eficiente Williams FW07 patrocinado pela Albilad-Saudita Racing Team.
Jones e o Williams FW07-Cosworth de 1979.  Repare o apoio de Bin Laden, no lado esquerdo do nº27...
O título na F1 de 1980 foi decidido no GP do Canadá, penúltima prova do ano, entre Piquet e Jones. Largando ambos na primeira fila, Jones levou uma leve vantagem sobre Piquet. Na primeira curva para direita, Jones estava por fora e Piquet por dentro. Nenhum dos dois tirou o pé e a colisão foi inevitável. Pironi bateu no Brabham BT49 de Piquet e vários carros se envolveram na colisão. Alinhados para a 2ªlargada, o apressado Pironi se antecipou, queimou a largada pulando na ponta, na frente de Jones e Piquet que estava com o carro-reserva. Com uma tocada maravilhosa, Piquet ultrapassou Jones e depois Pironi na reta dos boxes, para assumir a ponta da prova na 3ªvolta. Mas, na 24ªvolta, o brasileiro Piquet já tinha uma boa vantagem sobre Jones, quando o motor de seu Brabham BT49 quebrou. Num ritmo alucinante, Pironi ultrapassou o novo líder Jones, mas tinha sido penalizado em 1’ devido à queimada na 2ªlargada. Com a penalização do francês, Jones administrou a diferença sobre ele e manteve Reutemann atrás fazendo o jogo da escuderia Williams. “A corrida chegou a seu final, com Jones vencendo com uma vantagem de 15” sobre seu parceiro Reutemann, seguido de Pironi (penalizado, caiu do 1º para o 3ºlugar). Assim Jones conquistou seu único título na F1. Foram cinco vitórias contra três do vice Piquet e uma de seu companheiro Carlos Reutemann.
Em 1981, a disputa interna pelo título entre os pilotos Reutemann e Jones da Williams, favoreceu o brasileiro Nelson Piquet da Brabham que só foi campeão na última prova, quando Laffite e Reutemann também tinham chances de levantarem o caneco. A prova foi disputada no estacionamento do Caesars Palace, em Las Vegas. Sem chances de defender seu título, Jones venceu de prova de ponta a ponta. Reeutemann –sem a terceira marcha- chegou em sétimo, Laffite em sexto e Piquet em quinto, o que foi suficiente para ser campeão com apenas um ponto na frente de Carlos Reutemann. Cansado da vida agitada na F1, Jones largou tudo e foi viver em sua fazenda na Austrália.
Em 1982 ficou no 8ºposto ao participar do Campeonato Australiano de Pilotos pela sua estreante escuderia – Alan Jones Racing-, pilotando um Ralt RT4-Cosworth e também. quebrou a perna andando a cavalo... Além de participar desse campeonato na Austrália, voltou à F1 em 1983 na Corrida dos Campeões chegando na terceira colocação com o Arrows A6. Completamente fora de forma, correu também no GP de Long Beach de 1983, substituindo o brasileiro Chico Serra na Arrows. Não resistiu e abandonou depois da metade da prova por cansaço físico, quando ocupava a 14ªcolocação.
Participou também do Mundial de Marcas até 1984 com um Porsche 956 da Porsche Kremer Racing e da Rothmans Porsche. Uma proposta financeiramente irrecusável o fez voltar à F1 em 1985, na escuderia Lola de Carl Hass. O projeto foi um fracasso total e no final de 1986 Jones desistiu definitivamente da F1.
De 1985 até 1995 Jones correu também na Cart (somente em Road America onde surpreendeu com um ótimo 3ºlugar pilotando o Lola T900 da Newman/Haas Racing), no Japão, Turismo asiático e australiano, sendo vice-campeão em 1998 e 1993, com Ford EB Falcon.
Jones fundou a empresa Alan Jones Racing em 1996 e correu nela até 2002 em eventos de resistência em carros de turismo.
Ele se separou de sua esposa Beverly e em 1996 casou-se com Amanda Butler Davis, tendo mais dois filhos Zara e Jack.
De 2005 até 2008, acompanhou a curta carreira de seu filho Christian na Internacional GP1, Porsche Mobil Super Cup (PMSC), Porsche Carrera Cup Asia (PCC Ásia), Porsche Carrera Cup Austrália (PCC Aus).
Hoje, aos 70 anos de idade, faz trabalhos na TV - como comentarista e apresentador na TV australiana-, mas também tem uma série de interesses comerciais, incluindo relógios de luxo masculinos e veículos de desempenho. É consultor e embaixador da Lexus.

Resumo da carreira de Alan Jones em provas válidas pelo Mundial de F-1: 
·         116 largadas (de 1975 a 1986).
·         Campeão Mundial em 1980.
·         12 vitórias (1977: Áustria; 1979: Alemanha, Áustria, Holanda e Canadá; 1980: Argentina, França, Inglaterra, Canadá e EUA; 1981: Long Beach e Las Vegas).
·         6 Pole-Positions (1979: Inglaterra, Canadá e EUA; 1980: Argentina, Bélgica e Alemanha).
·         13 Voltas mais rápidas (1978: Long Beach e Canadá; 1979: Canadá; 1980: Argentina, França, Alemanha, Itália e EUA; 1981: Long Beach, Mônaco, Espanha, Alemanha e Holanda).
·         Conquistou 206 pontos descartando 7 daí, totalizou 199 pontos oficiais.
·         Terminou 7 vezes em  2ºlugar, 5(3º), 8 (4º), 5 (5º), 2 (6º), 3 (7º), 3 (8º), 6 (9º), 4(10º), 4(11º), 2(12º), 3(13º), 2(16º), 2(17º), 1(não foi classificado) e 47 (não finalizou).   
·         Correu 60 provas com Williams (164 pontos), 19 Lola Beatrice (4 pontos), 14 Shadow (22 pontos), 14 Surtees (7 pontos), 4 Hill (2 pontos), 4 Hesketh (0 ponto)  e 1 Arrows (0 ponto).