sábado, 27 de novembro de 2021

07/ABRIL de 1968

 A última conversa...

OS PILOTOS AYRTON SENNA E JIM CLARK FORAM OS ÚNICOS CAMPEÕES MUNDIAIS QUE MORRERAM DURANTE UMA CORRIDA COM CARROS FÓRMULA: SENNA NA F1 E CLARK NA F2. TRANSCREVO AQUI, DETALHES DO ACIDENTE FATAL DE CLARK, EM HOCKENHEIM, E SUA ÚLTIMA CONVERSA.

Por SERGIO SULTANI (Texto extraído do livro Champions de Christopher Hilton e John Blunsden).

 

A

 Fórmula 1 sempre teve seus ídolos. Os nomes Fangio, Clark, Stewart, Lauda, Piquet, Prost, Senna e Schumacher foram apenas alguns dos protagonistas que de uma forma ou de outra fizeram e fazem o espetáculo desse esporte. Quem foi o melhor?

Se eu ou qualquer outro ser humano tivesse a resposta como numa ciência exata, o espetáculo já teria terminado a muitos anos atrás. Mas uma coisa é certa: entre os melhores que qualquer pessoa cite, muitos dos pilotos acima serão lembrados.

Com muita emoção, escrevo aqui os momentos antecedentes e posteriores ao trágico acidente mortal do fenomenal escocês Jimmy Clark (ou Jim Clark) e presenciados pelo seu mecânico e colega Dave Sims, pelo outro mecânico da Lotus (do piloto Graham Hill) Mike Gregory, pelo chefe de mecânicos Endruweit e pelos seus colegas de bastidores e profissão, destacando o grande mago da F1 e da Lotus, Colin Chapman. Segue abaixo a sensacional matéria do jornalista John Blunsden:

“Em 1968, a F1 começou na África do Sul em 01/01, onde Clark, dirigindo o Lotus 49 conseguiu sua 25ª e última vitória na categoria, batendo seu parceiro Graham Hill em 25"3/10 e tornando-se o maior vencedor de Gps de F1 depois de onze anos de liderança do grande Juan Manuel Fangio com suas 24 vitórias na categoria”.

“Daí veio a antiga Copa da Tasmânia, na Nova Zelândia, onde Clark participou de oito corridas com o Lotus 49T (estreando as cores dourada e vermelha do lendário patrocinador Gold Leaf), conseguindo quatro vitórias, 1 segundo lugar, um quinto lugar e não terminando duas provas”.

“Em 31/03 ele correu de F2 em Montjuick Park, na Espanha. Jacky Ickx (Ferrari Dino 166) lembra o seu último duelo com o escocês: ”
- Eu tentei passar Clark (Lotus 48B) no hairpin. Estava muito rápido, brequei mais tarde e consegui ultrapassá-lo. Depois da prova, procurei-o e disse-lhe: Sinceramente, desculpe-me pela ultrapassagem.

- Ele disse: OK, como 1ªvez, você está desculpado, mas na 2ª não haverá desculpas. Foi uma gentileza esportiva.

 “O mecânico Dave Sims cuidava do carro de Clark:”

- Montjuich foi um desastre. 
Na 1ªcurva, Ickx chegou colado no Jimmy, totalmente fora de controle, sem freio, ultrapassando-o e tirando-o da corrida. E o motor de Graham Hill (parceiro de Clark na equipe Lotus) estourou. Um desastre”.
 “Mike Gregory era o mecânico de Graham Hill. Sims disse: ”
- Carregamos o caminhão no domingo a noite e fomos para Alemanha onde haveria a próxima corrida de F2 no outro domingo, em Hockenheim. Chegamos ao circuito na 4ªfeira e tínhamos que mudar o motor de Hill e a traseira do carro de Clark. Fizemos isso debaixo de frio, nevoeiro e chuva. Isso prejudicou demais nosso trabalho.

 “Sims e Gregory nunca tinham ido para Hockenheim antes e também Clark nunca tinha dirigido lá”.

 “O ex-piloto Scott Watson lembra: ”
- Clark disse-me que ele não estava entusiasmado, não tinha gostado do circuito, mas ele precisava conhecer o circuito. Eu perguntei: por que você não foi para Brands Hatch?
 “A pergunta persiste. Existem várias versões: ”
1.      O Team de Alan Mann (Racing Ltd) convidou Clark antecipadamente para pilotar o Ford GT40 no BOAC 500 (prova em B.Hatch citada acima). O Ford era a sensação do momento e Clark estava esperando um convite formal. Este não veio e Clark foi correr de F2 para a Lotus em Hockenheim.
2.      Bette Hill (esposa de Graham Hill, mãe de Damon Hill) relata:
-“O lado triste é que nem Hill e nem Clark precisavam ter ido à Hockenheim. Eles iriam correr em Brands Hatch, mas a escuderia Lotus estava oficialmente na F2 e as autoridades alemãs iriam excluir ela se não participasse da prova de Hockenheim. Daí, Clark e Hill deixaram seus planos para trás e foram para a Alemanha”.

 “Enquanto isso, na Inglaterra as 500 Milhas de BOAC anunciava a estréia do novo Ford com motor de F1 3 litros V8 pilotado por Dennis Hulme, Bruce McLaren, Mike Spence e a surpresa que todos imaginavam ser Jim Clark.

Na sexta-feira, dia 5, Clark chegou até a participar do jantar da abertura da prova, na Inglaterra. No sábado, dia 6, ele embarcou do pequeno aeroporto de Toussus-Le-Noble com seu Piper Tuwin, para a Alemanha.

Depois da prova de F2, ele iria testar seu Lotus em Zandvoort, na Holanda, mas”...

 “Com a decisão de Clark (ou da Lotus?) de correr na Alemanha, o parceiro de Mike Spence no Ford GT40, foi o "velho" Jack Brabham. A corrida teve 36 carros alinhados no grid e 5 reservas. Grandes pilotos da época estavam lá: Jacky Ickx, Brian Redman, Joaquim Bonnier, Jack Oliver, John Miles, Hans Herrmann, Jo Siffert, Vic Elford, Richard Attwood, Jack Brabham, Dennis Hulme, Mike Spence, Bruce McLaren, David Hoobs, Ludovico Scarfiotti, Gerhard Mitter, Pedro Rodriguez, e os americanos Thompson e Beckwith com o atraente carro americano Howmet TX impulsionado a turbina”.

 “O circuito de Hockenheim não tinha garagem e a equipe Lotus levou seus carros para o hotel perto do autódromo, em Speyer”.

 “O ‘jovem’ piloto inglês Derek Bell estava hospedado no mesmo hotel e juntamente com os outros hóspedes, acordou as duas horas da manhã com o ronco dos motores dos Lotus, quando Sims e Gregory apagavam um pequeno fogo no carro de Clark”.
“Sims descreve:
- Clark e Hill chegaram e não gostaram de Hockenheim. Chris Amon e os outros participantes também não. Durante o treino de sábado, Clark perdeu uma das 3 sessões devido ao frio. 
Os marcadores de seu cockpit congelaram (foram descongelados com vapor de água quente vindos de chaleiras!) e o carro estava saindo demais de traseira. Naquelas condições, pista molhada, traçado plano e rápido, sem gincanes e cheio de árvores ao redor, deixou Clark assustado, chegando a dizer que o circuito era mais perigoso que Nurburgring”:
- Se alguém errar, teremos um sério acidente nesta corrida.
O freio era acionado somente uma vez, no Stadium”! “Ninguém se sentia à vontade naquelas condições e o Lotus de Clark ainda tinha problemas de traseira e soltava pequenas labaredas misteriosas. Nunca esteve pior”.

“Após o treino (7ºtempo), Derek Bell foi para o hotel e ficou muito feliz quando Clark o convidou para tomar um chá em sua mesa. Eles conversaram bastante e decidiram que Bell iria pegar uma carona com Clark para o autódromo na manhã seguinte, cancelando sua ida com a escuderia Brabham. Nesta noite, os carros ficaram no autódromo com seguranças e os mecânicos Sims e Gregory puderam descansar longe da ‘oficina’”. 

 “Às 9:00 horas da manhã, Clark, Hill e Bell foram para o autódromo. Bell estava encantado, afinal estava ao lado dos dois maiores pilotos da época”.

“Clark disse-lhe:
- Quando você chegar para me ultrapassar, não fique muito perto e seja rápido e objetivo: ultrapasse logo.
 Bell ficou surpreso e retrucou:
- Como assim? Você está me gozando, não é?
Clark:
- Não! Meu carro está muito instável e de repente poderá sair reto numa curva. Não fique muito tempo perto, pois poderá ser perigoso! ”.
 “Chegando ao autódromo, Clark desejou boa prova para Bell e foi para seu Box.
O Warm-Up começou atrasado devido ao forte nevoeiro que rondava a região, além de estar um frio intenso que não agradava a nenhum dos pilotos.
O clima estava terrível e o ‘astral’ da corrida péssimo.
Clark disse para seu mecânico Sims”:
- OK, olhe, fique ‘ligado’ na corrida, não espere que eu tome a liderança. Mantenha-me informado sobre o que está ocorrendo na frente e eu farei o melhor que puder. O carro não está ‘contente’ e eu não estou contente com o carro, os pneus não estão com boa aderência.

“Ele deixou Sims e foi conversar com Graham Hill e Chris Amon e eles chegaram a uma unanimidade: pista horrível, insegura e com muita falta de aderência”.

 “Recebemos o sinal de 1' para a largada e Jimmy disse para mim no grid”:
- OK, vejo você mais tarde, mantenha-me informado. “Essas foram as últimas palavras ditas por Clark ..."
Sims foi para seu Box e preparou a placa de sinalização para Clark. A prova teve duas baterias.
Na largada, os pneus dos carros soltaram um tremendo spray de água e Clark já saiu balançando.
O Lotus de Hill estava pior que o de Clark, mas no começo da prova ele manteve-se na "cola" de Clark. 
Na 5ªvolta Hill não viu mais Clark (Jimmy vinha em 6ºlugar, atrás de Kurt Ahrens e perseguido por Chris Irwin).Hill passou (onde hoje é a 1ªchicane), viu as marcas de derrapada entre as árvores. 
Ele imaginou que Clark estivesse a uma boa distância dele. Bell também passou e percebeu que alguém havia saído da pista.Era Clark...
O que aconteceu com ele?
Seu pneu traseiro direito furou. A força centrífuga aplicada num carro a mais de 200 km/h numa reta manteve o pneu estável, daí o piloto não pode perceber o furo. 
Quando ele chegou à curva, a gravidade anulou a força centrífuga rapidamente.  Daí, o pneu entrou em colapso e perdeu sua estrutura numa fração de segundo.
Um comissário de pista que viu o acidente disse que o Lotus 48 "perdeu" a traseira e saiu demais para a esquerda. Clark corrigiu rapidamente e o carro "escapou" para a direita. O piloto com sua habilidade tentou corrigir novamente, mas a lei da física dominou o carro que não tinha mais controle. 
Ele foi para a esquerda novamente, com um pequeno decréscimo de velocidade e entrou na floresta batendo numa árvore de lado.
 O chefe dos mecânicos na Lotus, Endruweit, no Box disse:
- "Clark não passou. Deve ter parado". 

 De repente, uma ambulância saiu do paddock. Nós sabíamos que algo acontecera. Estávamos com duas colegas alemãs, uma delas fotógrafa que usávamos como intérprete. Fomos à sala dos organizadores e perguntei:
- "Que droga aconteceu com Jimmy? ”.
E eles relutando em dizer algo disseram:
- “Sims, contenha-se”. Sabemos que alguém bateu. Espere no Box; não fale e não dê entrevista a ninguém.
 Eu não tinha monitor, rádio, nada. Então um Porsche preparou para sair para a pista (como o Safety Car de hoje). O piloto me disse:
- "Venha, houve um acidente.”.
Eu entrei no carro e perguntei:
- "Qual o problema? ”.
Ele disse:
- "O Lotus de Clark saiu da pista.”.
Eles não pararam a corrida e nós fomos pelo acostamento com o Porsche, assustando todos os pilotos numa imensa escuridão.
Os carros não diminuíram a velocidade e nem houve bandeira-amarela na prova.
Quando chegamos ao local, não havia nada. Então eu me perguntei: 
"- O que aconteceu aqui?" Aí eu vi uma ambulância parada entre as árvores. 
“- Onde está o carro?"
 Eu perguntei. - "E Jimmy?" "
- Ele está na ambulância", o comissário de pista me respondeu.
 - "Como ele está? Está sendo examinado?"
- "Sinto muito. Ele está clinicamente morto." 
 Sims entrou em choque e relata o momento: 
"- Sim, sim. Desculpe, mas onde está o carro?"
Eu ignorei o que ele tinha falado, pois eu achei que o comissário não sabia falar bem o inglês. 
Daí vi onde estava o carro e perguntei onde estava o resto, ou seja, o motor e câmbio. 
Eu perguntei: “- O que fizeram com ele”? O que está acontecendo aqui? 
 Pude ver o monocoque.
 Ele bateu numa árvore e estava torto como uma banana. 
A força da batida jogou o conjunto motor-câmbio 50 a 60 jardas de distância. 
Então parei, refleti e entendi. Eu disse: - "Bem ..." 
E o homem disse: 
- “Vou te dizer novamente: ele está clinicamente morto, mas nós o levaremos de avião para Mannheim."

Eu não pude olhar dentro da ambulância. 
Eles fecharam as portas. 
Alguém me mostrou o ponto da árvore onde Clark bateu a cabeça. Foi a 15 pés de altura. 
Nesse momento, eu não sabia o que fazer. 
Não tinha um telefone e o público estava vindo na floresta e apanhando os destroços do carro! 
Eu disse:- “Em primeiro lugar, não deixe ninguém tocar em nada; meu Deus, faça as pessoas pararem de pegar os pedaços." 
Estava transtornado e disse para o piloto do Safety Car: 
- "Vamos até os organizadores. Façam que Graham entre no Box"; afinal ele já tinha passado e não tinha notícias do que havia acontecido. 
- "Vamos rápido para que eu possa perguntar ao Graham o que vamos fazer."  
Endruweit, ainda com os organizadores, no meio do zum-zum-zum alemão, voltou para o Box com 4 organizadores e a fotógrafa. 
-"Certo" ela disse, venham comigo e entramos no carro dela. 
Ela saiu em busca da ambulância e à procura do hospital. 
Eu estava confuso. Já havia se passado 4 horas e eu achava que se tinha passado 1:30 horas. 
Sims retornou ao Box e pensou:- É minha culpa que o nº1, o melhor piloto esteja morto. 
O que faço? Fujo? 
Onde está o chefe dos mecânicos? Onde está Graham Hill? 
Vimos Hill entrando e eu disse: 
-Olhe, Jimmy está morto, eles querem que alguém acompanhe o corpo até Mannheim; o que faço? 
Hill descreveu em sua autobiografia "Vida sem Limite": 
- “Minhas reações naquele momento foram estranhas. Eu não tinha consciência do que realmente tinha acontecido. 
Registrei somente que nunca mais iria ver Jimmy."  
Sims recorda: 
"Sem Graham eu não sei o que teria acontecido. Ele estava indiferente, inacreditavelmente frio e conciso. 
Ele dirigiu-se aos organizadores e disse que nós iríamos com nosso caminhão ao local do acidente pegar tudo que fosse possível. 
Eu, Hill e Gregory, com ajuda dos seguranças, carregamos vários destroços no caminhão. Tínhamos que fazer isso devido ao inquérito que iria ser aberto. 
Voltamos para o paddock."  
Endruweit alcançou o hospital e continuava dizendo: 
- "O que aconteceu? O que aconteceu?" 
Ele relata: 
... E eles ficavam calados. Eu dependia totalmente da fotógrafa. Eu não parava quieto e depois de um bom tempo eles disseram: 
- "Sente-se Mr. Endruweit. Tome um drink." 
E eu pensei:  “Opa, as notícias não são boas”. 
Nesse momento eles disseram que Jimmy estava morto. 
Até então acreditávamos que ele estava seriamente ferido e tudo estava sendo feito por ele no hospital. Os médicos perguntaram-me se eu poderia fazer uma identificação formal. Eu fiz. 
Jim Clark não estava marcado. Ele bateu numa árvore jovem de 4" e teve arrancada toda parte traseira do carro. Estava explicado para mim... 
No hospital pensei, ele bateu de lado na árvore e teve uma fratura de crânio. 
Em outras palavras: a base de seu crânio foi o ponto de impacto contra a árvore. E isso foi tudo. 
Enquanto isso, Sims e Gregory levaram o caminhão para o hotel com Sims totalmente abalado."  
Ainda no hospital Endruweit disse: 
- "Preciso de um telefone". "Fui numa sala e liguei para Chapman porque ele tinha me dado o telefone da onde ele estaria. 
Atenderam e eu falei:" - "Preciso falar com Chapman" e eles disseram que ele tinha ido fazer uma caminhada. 
- "Por Deus, procurem e achem esse homem!" 
Pensei em falar com o pai de Jimmy também. 
Nesse instante Chapman estava na linha e dei-lhe a notícia. Sua esposa, Hazel Chapman, disse que Colin ficou totalmente em choque, pegou seu carro como um maluco e partiu para Hockenheim. 
Endruwait voltou para o hotel, procurou Hill que comandava a operação dos destroços do carro. 
Hill soube que Chapman estava a caminho e disse para Sims:
- "Acho melhor não fazermos mais nada enquanto ele não chegar." 
Sims, Gregory, Hill e Endruweit sentaram no Hotel em Speyer e ficaram consolando um ao outro na espera de Chapman. Sims relata:
"Ele chegou e me procurou:" 
- "Que diabos aconteceu aqui?" - "Eu não tenho nada com isso!" Respondi. 
- "O que aconteceu? Eu não posso acreditar que isso está acontecendo!"
 - "Nenhum de nós pode." eu disse. 
Chapman ordenou: - "Quero aquele caminhão longe daqui agora. Vamos levá-lo para a Inglaterra agora." 
Retruquei: - "Mas a polícia o lacrou. Não podemos sair antes de eles chegarem amanhã as 8:00 horas da manhã.
 - Vocês têm que ir, mas não passem pela fronteira. Vão e façam isso. É uma ordem!" 
Sims e Gregory foram para o caminhão e Chapman os acompanhou.  
Ele estava mais calmo, e perguntou novamente ao Sims: 
- "O que aconteceu? O que houve de errado? Não pode ter sido erro de Jimmy. Ele não era bobo. Era pelo menos 1/10" mais rápido que qualquer outro e tinha um total controle de um carro. Mesmo que as autoridades afirmem que ele errou, deve ter havido alguma falha no carro."  

Na 74ªvolta da prova de Brands Hatch, foi anunciada a morte de Jim Clark ... 
A prova foi vencida por Jacky Ickx-Brian Redman com seu Ford GT40 nº4, seguido por Scarfiotti-Mitter com o Porsche, e por Vic Elford-Jochen Neerpash, também com o Porsche 907. 

E na trágica corrida de F2, Jean Pierre Beltoise venceu com seu Matra-Cosworth, seguido por Henri Pescarolo e Piers Courage. 
Sims relata: "Deixamos (eu e Gregory) Graham e Chapman e descansamos um pouco em cima do caminhão. 
Decidimos que desviaríamos quando estivéssemos perto da Bélgica, em Ardennes. Tínhamos um mapa e traçamos o caminho.
Saímos antes das 8:00 horas e ficamos surpresos, pois não havia guardas na saída do hotel ou algo parecido para nos barrar. 
Fomos por pequenas estradas e até chegamos a passar por dentro de uma fazenda.
Chegamos a Zeebrugge e esperamos uma balsa que sairia em 15 minutos. 
As pessoas apontavam para o nosso caminhão que tinha o logotipo e cores da Lotus. Estávamos cansados e fumávamos muito para não dormir. 
Um policial se aproximou: - "Jim Clark?"
- “Sim, Jim Clark" respondi. 
- "Tenho que ver". - "Não. 
Você não pode." Respondi. 
- "OK. Você não entrará na balsa. Eu quero tirar algumas fotos." 
Aí pensei:  "Que autoridade! Precisa tirar fotos para embarcarmos? O que faremos? 
Não temos escolha, então deixamos ele tirar algumas fotos do que restou do carro. Ele guardará as fotos para ele mesmo, não entregará a um órgão oficial."  
Nesse ponto não tínhamos tirado nada do carro. As botas de Jimmy estavam presas ao lado da pedaleira e o relógio Rolex dele estava preso debaixo do cilindro-mestre! 
Não tivemos tempo de tirar nada do lugar ao deixarmos Hockenheim. 
Embarcamos na balsa até Godsend e quando chegamos à Inglaterra, a polícia britânica estava nos esperando. 
Não sei se a polícia belga os avisou ou mesmo a alemã. Fomos escoltados por eles até a fábrica e lá ficamos detidos sob vigilância por 2 dias.
Hill voltou com seu próprio avião e a imprensa não o deixou em paz a partir do momento que ele pisou em solo inglês. Ele era assediado em qualquer lugar e respondia friamente:
- “Foi terrível, terrível" e seguia em frente para não se deixar abater pela forte emoção que estava passando. 

Clark foi enterrado em Chirnside, na Escócia. O funeral foi acompanhado por inúmeros fotógrafos. Seu caixão foi carregado pelos seus melhores amigos, destacando-se entre eles: Graham Hill, Innes Ireland, Ian Scott Watson e Dan Gurney que não se conteve e derramou algumas lágrimas.
Seu mecânico Sims, sofreu muito. 
Noite após noite ele questionava se foi o culpado pela morte de Jimmy: 
- "Você põe a cabeça no travesseiro e começa a fazer um ckeck-list dos preparativos para a corrida, para achar algum ponto que não levou em consideração. Nunca falei isso com ninguém, pois poderia abrir muitas outras questões. Não foi fácil para mim falar com a família dele sobre o assunto. Eu queria levantar as mãos para o céu, desabafar e dizer: eu fui a última pessoa que falou com Clark, mas eu não fiz. 
Seu pai, James Clark, quando soube da notícia disse: 
-"O automobilismo era a vida de Jim. Mesmo que não tivesse chance, achava que iria correr da melhor maneira possível. Sempre foi assim - até o último momento achava que deveria dar tudo de si." Sua mãe sentiu-se mal e desabafou: - "Estamos muito orgulhosos dele. Agora tudo terminou." 

A rádio BBC deu a notícia oficial, no seu noticiário da noite através do seu locutor Roy Williamson: _ "O piloto Jim Clark morreu num acidente na Alemanha no circuito de Hockenheim. Jim Clark, o campeão mundial de 1963 e 1965, morreu esta tarde após bater na prova de F2. Ele tinha 32 anos. O acidente ocorreu quando seu carro, um Lotus-Cosworth saiu do traçado a 170 milhas/hora em ziguezague, derrapou e bateu numa árvore na floresta. O carro ficou totalmente destruído. Escombros foram espalhados por toda a área. 
A direção da pista disse que Clark teve uma quebra de suspensão. Investigadores estão tentando detectar a causa do acidente. Clark foi retirado dos destroços muito machucado e morreu a caminho do hospital." 

As investigações foram feitas por uma comissão liderada pelo magistrado Wilhelm Angelbeer. A conclusão ao final do inquérito foi a seguinte: 
- Jim Clark foi vítima de um desastre do tipo clássico. Os trabalhos de averiguação demonstram que não existem provas de que outras pessoas tenham sido culpadas, não havendo, portanto, base para um caso policial contra terceiros, daí esta infortunada ocorrência parece ser produto exclusivo de acidente. 
Alguém disse que Clark pegou, no seu pneu esquerdo traseiro, destroços do carro do piloto Walter Habegger, que havia sofrido um acidente no sábado. 
Outros acham que Clark pegou um buraco da pista, que muitos dizem que não existia antes do acidente. 
O chefe da Lotus, Colin Chapman, quis ir mais a fundo e procurou Peter Jowitt que era Engenheiro Senior do Departamento da Viação Aérea Experimental, para fazer um inquérito particular. 
Jowitt concluiu que Clark teve um furo de pneu e a velocidade em reta aliada a força centrífuga, deixou o pneu intacto até que uma ínfima deflação da força foi suficiente para que o pneu perdesse toda sua função. Chapman aceitou ... 

E Graham Hill foi campeão naquele ano trágico que ainda teve Mike Spence, Ludovico Scarfiotti e Jo Schlesser mortos em acidentes. 
Bette Hill diz que Graham Hill foi o campeão esquecido, pois 1968 é lembrado até hoje como o ano da morte de Clark. 

Coincidência ou não, Clark morreu e Graham Hill era seu parceiro na F1; 26 anos depois, Ayrton Senna morreu e Damon Hill (filho de Graham) era seu parceiro na F1. 
A história se repete? 
“Todas as corridas são um risco. Quando se vai muito longe, é muito tarde para calcular... é preciso agir! ” (Jim Clark). 

Ambos foram muito longe, agiram, e ... arcaram momentos para a eternidade.