sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

José Calos Pace: Uma Homenagem Anônima

Arrumando um velho armário de casa encontrei dentro de um anuário, em um pedaço de papel
1969 - Pace e Marivaldo, vencedores dos 1000 Km de Brasília. Juntos na Eternidade.
manchado pelo tempo, o texto abaixo com dizeres escritos a mão: “PACE 18/03/77”.

 Foi o dia da trágica morte de Pace (junto com o seu amigo Marivaldo Fernandes)...

Depois de lê-la disponibilizo essa crônica anônima aqui, para os internautas.

Não sei quem escreveu esta homenagem a ele, mas posso afirmar que quem o fez, sabia da grandiosidade de José Carlos Pace, “Moco”. Aí vai:

“Absurdo, irreal, sem sentido. É tudo o que se pode, pensar, ainda se refazendo do soco dado no queixo de todos nós pela realidade inaceitável. Mas, "the show must go on", dizem os ingleses.

A semana que vem tem Grande Prêmio: todo mundo vai comentar: os jornais darão cobertura; a TV vai transmitir. Tudo como antes. Quase tudo.

No grid de largada, não falta apenas mais um piloto com seu carro de corrida. Faltará alguém que nesse circo poderia estar no lugar do mágico. Um Volks-Porsche em Interlagos, dando banho nas Carreteiras (1966); um Gordini, furando a neblina durante os 1600 km de Interlagos (1965) ou um recorde em Nurburgring, toureando um Surtees (1973), só pode mesmo ser coisa de mágico. Falta alguém que nesse circo pisava, da primeira à última volta, com o mesmo braço dos velhos campeões. Falta alguém para reclamar do carro, da equipe, da imprensa, de Deus e de todo mundo. Como você costumava fazer, na ânsia de sempre baixar o tempo um pouco mais.

Mas, só agora, é que todos percebem que ali estava um campeão. E, como todo campeão, em qualquer setor de atividade, você também trazia o destino marcado. Talvez, isso aconteça para chamar a atenção e, desta forma, fazer com que todos aprendam as lições que os campeões têm para ensinar. Foi com você, embora faltando-nos o sorriso fácil e o jeito para ser gentil, comum nos grandes ídolos, que nós aprendemos a perseverar e a brigar contra o acaso, contra a falta de sorte ou seja lá o nome que isso tenha. Um azar em Piracicaba; outro em Brasília; outro na França... Sempre assim. A adversidade roubando os pontinhos que, no final, poderiam ser a confirmação oficial.

Mas, quem gosta e entende dessa doença ou mania chamada automobilismo, sabe que não é apenas na soma de pontos que se faz um campeão. É preciso mais. Muito mais. É preciso talento pra tocar, igualmente forte, um protótipo Bino; um Turismo envenenado ou uma Fórmula Instável. É preciso sensibilidade para sentir na pista as imperfeições de um novo projeto; aos poucos desenvolvê-lo e disparar na frente, como o monstro da Alfa. O coração tem que ser grande e forte para suportar o choro sentido na morte do amigo Cevert. E, mais do que tudo, é indispensável a ingenuidade de uma criança, que só quer o seu brinquedo, sendo capaz de brigar quando ele a desaponta.

Por tudo o que foi dito, a gente acaba acreditando que não foi tanto azar o título que não veio. Porém, mais que um prêmio, vale a eterna lembrança. E, essa todo mundo sabe, fica para sempre e vira lenda. E são poucos os que têm essa sorte. Sorte, não. Poucos são os que têm essa marca. Marca de campeão. Campeão de verdade.” 

Autor: Desconhecido.

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